O lucro dos bancos e o bolso do cliente

O lucro dos bancos e o bolso do cliente

Você já parou para somar todos os valores que paga em tarifas, taxas e juros ao longo de um ano?

Quando voltamos no tempo, entre os anos 80 e 90, os bancos basicamente sobreviviam com base nas concessões de empréstimos, que representavam a sua base de receitas. Depois disso tiveram a sacada de que era possível ganhar dinheiro com a prestação de serviços e venda de produtos dos mais diversos, como cartões de crédito e débito, capitalização, previdência privada, consórcio, seguros e assim por diante. Enquanto os empréstimos tinham o risco de não serem pagos, cobrar por serviços e vender produtos passou a ser uma fenomenal sacada para alavancar receitas, afinal, era receita sem risco. Foram criadas as mais variadas taxas e tarifas possíveis e ano após ano, essas receitas, principalmente sobre serviços passaram a representar um percentual cada vez maior na composição da receita total dos bancos, ocorrendo situações onde os bancos preferiam captar recursos em investimentos e oferecer serviços dos mais diversos, do que fomentar a economia do país com linhas de empréstimos, que por sinal, é algo que está se repetindo atualmente.

Lançado em novembro de 2020 e anunciado como um mecanismo revolucionário para o setor financeiro, o PIX foi uma evolução de um processo tecnológico que ficou quase 2 décadas estagnado. A última grande mudança ocorreu lá nos idos do ano de 2002, quando foi criado pelo Bacen o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), com a integração de sistemas entre instituições financeiras que permitiram a criação das transferências via TED e DOC. Foi realmente um enorme avanço para a época, mas depois disso a coisa ficou em “stand-by”, pois não era interessante ao sistema financeiro mexer nesse modelo, pois as receitas geradas com as tarifas cobradas era algo que encantava os banqueiros. E os lucros só aumentavam, pois os avanços tecnológicos permitiram uma drástica redução de custos com processamento, permitindo uma forte redução no quadro de funcionários, o que tornou tudo um mar de águas límpidas. Fui bancário por mais de 25 anos e lembro que até meta de TED e DOC tínhamos que negociar com os clientes.

Entretanto o avanço da tecnologia propiciou uma concorrência inusitada para os bancões, que foi o surgimento de inúmeras fintechs após a crise financeira internacional de 2008, as quais passaram a oferecer alternativas cada vez mais interessantes e baratas, muitas sem custo algum. E isso passou a incomodar os bancos tradicionais. As quedas nas taxas de intermediação nas vendas nos cartões de crédito e débito é algo que talvez melhor exemplifique essa queda de braço. Passaram a surgir ofertas de cartões de crédito sem custo para o consumidor final e as taxas cobradas dos comerciantes nas vendas por cartão, que no crédito facilmente batiam em 5% a.m., começaram a cair drasticamente com a atuação cada vez mais forte das fintechs neste mercado. Mas essa queda foi compensada ao longo do tempo, com a inserção de um número cada vez maior de consumidores finais utilizando cartões, bem como uma crescente no volume de vendas com essa modalidade de pagamento sendo cada vez mais aceita pelo comércio em geral. E o próximo capítulo serão os impactos da criação do Real Digital, a versão digital do real brasileiro, em desenvolvimento pelo Banco Central do Brasil, com previsão de implantação para o final de 2024 e que tende a gerar profundas mudanças de como lidamos com o dinheiro e com os Bancos.

E para fechar: você já parou para somar todos os valores que paga em tarifas, taxas e juros ao longo de um ano? Se fizer a conta, fique sentado, pois provavelmente levará um baita susto.


Autor
Wilson Kunze

Bacharel em Administração, Especialista em Gestão de Pessoas e Tutor em EAD.

Palestrante | Facilitador | Mentor I Consultor I Professor I Escritor.

(18) 98125-0559